02 janeiro, 2024

  (aula)

Os livros feitos por nós / levantamento

12 de Dezembro

2023

Antes de partir para a pausa de Natal tivemos um dia de partilha -

partilha imensa. 


Começámos por mergulhar-nos na coleção dos livros feitos por nós,

que muito generosamente todos partilharam. Muitos destes livros tomam

a forma de livros de artista, obras que privilegiam o formato de livro e a matéria

do papel para partilhar fotografias, poemas, desenhos, histórias e profundidades.

Muitas vezes o objeto-livro torna-se uma encarnação de uma obra que, se não

tomasse a forma de  livro, não seria tão acessível, podendo até perder-se. Materializa

a intimidade num testemunho físico que podemos segurar nas nossas mãos, guardar

numa prateleira ou debaixo da almofada. Tornam-se objetos que escolhemos guardar,

amar e cuidar, aos quais podemos sempre voltar e partilhar com outros, tecendo

pontes entre mundos e imaginários.


O segundo momento de partilha foi a visita à exposição Levantamento, que

acompanha as provas de doutoramento de Sara Belo, em que se apresenta a tese

O sopro mudo das imagens - impropriedade do gesto artístico, defendida a

14 de dezembro.





 

Exposição Levantamento, de Sara Belo


 (aula)

A Vida dos Objetos

5 de Dezembro

2023

Depois da aula O Privado Gabinete de Curiosidades, onde partilhamos os objetos que

colecionamos e connosco escolhemos trazer, e inspirados pelos últimos filmes que vimos juntos,

O Botão de Nácar (2015) e A Toca do Lobo (2015) , que usam os objetos para contar

as histórias, pensamos  a vida dos objetos a partir de textos de Maria Gabriela Llansol.


«Se gosto tanto desses objectos, por vezes simplicíssimos e sem marca de distinção, é porque

onde outros vêem tempo sedimentado, eu vejo imagens sobrepostas que me olham, prestes a

continuar a sua viagem pelo há», diz Maria Gabriela Llansol sobre os seus objectos, no diário

para Vergílio Ferreira, Inquérito às Quatro Confidências.


Os objetos podem ser um portal da memória, permitindo trazer o passado para o presente,

continuando a viagem pelo que há. São elos que ligam temporalidades, quando não é mais

possível voltar atrás. Intimamente ligados aos objetos, estão também  as histórias. Que

histórias contamos a partir dos objetos e como as contamos? Partir do singular para contar

uma história mais ampla. A arte abre o espaço para a comunicação,  dando vida a estas

histórias, guardadas para sempre num livro, num filme ou numa obra, e prontas a darem-se

de novo e para sempre.




























Um beijo dado mais tarde, de Maria Gabriela Llansol

  (aula)

A Toca do Lobo

28 de Novembro

2023

Continuamos debruçados sobre as gavetas da memória para pensar os objetos e a relação que com eles temos. Esta semana vimos o filme A Toca do Lobo (2015) de Catarina Mourão. Este documentário explora a história do avô da realizadora, durante a ditadura, através de uma visita por fotografias, álbuns de família e pelos objetos que ficaram daqueles que partiram. 

Partilhamos a sinopse do filme:


“Documentário de Catarina Mourão que explora memórias antigas do escritor Tomaz de Figueiredo, da família e da possível influência da ditadura salazarista no desenrolar da sua história. O documentário tem o título de um livro de Tomaz de Figueiredo, o avô que Catarina nunca conheceu. O escritor publicou em 1947 "A Toca do Lobo", o seu romance mais conhecido e vencedor do prémio Eça de Queiroz, no qual revive a infância e juventude.

O documentário é narrado pela realizadora e pela mãe, Maria Rosa Figueiredo, e fala sobre família, ausência e memórias, entre elas a Casa de Casares, onde se encontra o espólio do avô de Catarina, e onde a realizadora não conseguiu entrar.


Depois de "Pelas Sombras", um retrato da artista Lourdes Castro, a realizadora centra-se numa outra figura da vida cultural portuguesa: o escritor e seu avô Tomaz de Figueiredo (1902-1970). Um olhar que abre as portas secretas de uma vida em que apenas sobrou o seu trabalho para a memória dos filhos e dos netos, de uma família que se viu separada pela morte e marcada pelo dia-a-dia de um país ditatorial - um país duramente percorrido por quem escreveu sobre ele. Na sua antiga casa, vivem os segredos e os acontecimentos que nos falam, hoje, por um quarto fechado à chave - um quarto aberto pela câmara da realizadora e pelo movimento deste filme.”


Fonte da sinopse: https://www.rtp.pt/programa/tv/p40063




Still do filme A Toca do Lobo (2015)

27 novembro, 2023

(aula) Privado Gabinete de Curiosidades 21 novembro 2023

(aula)

Privado Gabinete de Curiosidades

21 novembro

2023


No fio condutor da temática relativa à atenção ao ínfimo, a aula livre deste dia serviu de palco para as várias coleções dos alunos, desde livros raros a fósseis. Cada um estendeu na grande mesa da sala que nos acolhe as suas coleções e cada um falou das suas particularidades e motivações para o colecionismo. Com esta aula, percebemos que os objectos podem fazer parte do desenho da nossa história, da nossa identidade e que podem também transparecer para uma forma física a nossa atenção para com o mundo.




Fotografias de Nadya Ismail e de Leah Saraiva.

23 novembro, 2023

(aula) O Botão de Nácar 14 novembro 2023

(aula)

O Botão de Nácar

14 novembro


2023


Visualizámos o filme-documentário O Botão de Nácar, realizado por Patricio Guzmán em 2015 e que pode ser acedido onlinePartindo de um cubo de quartzo de 3 mil anos, com uma gota de água enclausurada no seu interior, exploramos a relação que o homem tem com a terra e a água, e como estas podem ser zonas de fronteiras que separam pessoas, países, crimes; ou zonas de transbordo, ligando entes e astros. Partilhamos a sinopse do filme - 

“O oceano contém toda a história da Humanidade, as vozes da terra e as que vêm do espaço. A água é também a maior fronteira do Chile e guarda o segredo de dois botões que foram encontrados nas suas profundezas. Com 2670 milhas de costa, o Chile é o maior arquipélago do mundo e tem paisagens espetaculares: vulcões, montanhas e glaciares. Também aí se ouvem as vozes dos primeiros indígenas da Patagónia, os primeiros colonos ingleses e as dos prisioneiros políticos. Alguns dizem que a água tem memória. Este filme mostra que também tem voz.” (Fonte: Filmin)


Fotografia de Nadya Ismail.

13 novembro, 2023

(aula) "O Livro das Ignorãças", Manoel de Barros (continuação)

 (aula)

"O Livro das Ignorãças", Manoel de Barros 

7 de Novembro

2023

Se a primeira e a segunda parte do livro levam-nos numa viagem pelo infinitamente grande, a terceira parte - Mundo Pequeno - é uma visita ao infimamente pequeno. Olhamos agora o mundo com uma lupa de ampliação. O olhar é duradouro, e os bichos tornam-se enormes. Surgem partes inteiramente dedicadas à lesma, às capivaras, explicando em grande detalhe “tudo o que se há de dizer aqui sobre capivaras”. É um olhar quase científico, pontuado por estranhos factos onde “nem as mentiras podem ser comprovadas”. O facto científico recua até à origem do mundo, com cosmogonias postas do avesso. Primeiro não era a palavra, mas sim água e luz, depois árvore, depois lagartixa, depois homem. Só depois o pensamento e o sonho, encontros com as almas. Esta é a cosmologia do índio Rogaciano, mas Manoel de Barros resume em 14 versos a Teoria da Sopa Primordial - a única cosmogonia aceite pela Biologia do mundo ocidental.

“Pode um homem enriquecer a Natureza?”. O borbulhar constante da natureza, que está sempre a fazer nascer, manifesta-se na imaginação humana. Diz a Matemática que nunca vamos saber se algo é verdadeiro ou não, mas podemos propor. Essa proposta, palavra ou obra, é sempre um enriquecimento. E como uma reta sem origem nem fim, uma história escolhe dois pontos para começar e acabar. Mesmo sendo estes a origem mais distante e o fim certo, resta-nos imaginar o que há para além destes lugares, completando assim a história com a nossa imaginação. Fechamos o ciclo que se perpetuará para sempre na natureza.
























Pôs uma pedra na cabeça e foi embora, ilustração de Manoel de Barros.

06 novembro, 2023

(aula) “O Livro das Ignorãças’’, Manoel de Barros

 (aula)

"O Livro das Ignorãças", Manoel de Barros 

31 de Outubro

2023

No seguimento da aula anterior em torno da obra ‘’O Livro das Ignorãças’’, de Manoel de Barros, foi feita uma leitura conjunta da 2a parte. Este momento do livro é caracterizado por um teste aos ‘’deslimites’’ da palavra e da realidade.

Descrevendo a paisagem do Pantanal, local onde vivia e cuidava da sua fazenda, Manoel de Barros coloca-se ao nível da copa das árvores durante 3 dias, numa canoa, por consequência do que parece ter sido um dilúvio. Esta experiência perceptiva, parecendo um delírio, vai caracterizar toda a leitura desta parte da obra.

As imagens que descreve falam-nos da sua experiência com as coisas primeiras, as pré-coisas. Tudo isso denuncia a vivacidade no Pantanal, um lugar onde predominava o campo, os bichos e os fenómenos naturais. Denuncia também o tempo e a entrega que o autor dedicou para fruir naquele lugar. No Pantanal a própria ideia de tempo é rasgada ao longo do texto, porque se torna imenso em cada verso proferido. A narrativa destrói-se, porque cada frase é só uma frase, não se unem, mas a voz é contínua. A sua atenção para as coisas íntimas amplia o seu desejo de ser tudo com o Tudo da Natureza. É uma forma de se posicionar no mundo que habita, testemunhando a vida das coisas com o seu corpo inteiro, como se os olhos estivessem nas mãos e os ouvidos tivessem cócegas.

Praticar a atenção parece ser um constante elogio à terra e à presença.


"Eu sou devedor à terra

A terra me está devendo

A terra paga-me em vida

Eu pago à terra em morrendo"

Alentejo, Alentejo (Eu sou devedor à terra)



A.J. Casson, Shore Pattern, 1950 / 1960
in https://artsandculture.google.com/asset/shore-pattern/FQEf0jPSo6D-Yg?hl=f