(aula)
O Ovo da Serpente (III)
4 de Novembro
2024
Nesta aula pensámos o texto “Post-scriptum sobre as sociedades de controlo” (1990) de Gilles Deleuze, procurando relacioná-lo com o filme o “Ovo da Serpente” (1977) que temos pensado ao longo destas últimas aulas. Neste texto, Deleuze referencia três tipos históricos de sociedade - a sociedade de soberania, que antecede Napoleão, e é marcada pelo poder centralizado nos monarcas com controlo direto sobre os seus súbditos; a sociedade disciplinar que se desenvolveu entre os séculos XVIII e XIX/XX; e a sociedade de controlo que surge após a Segunda Guerra Mundial. Deleuze propõe que estamos numa fase de transição entre a sociedade disciplinar e a de controlo.
Nas sociedades disciplinares, o poder organiza-se em torno de instituições fechadas com leis próprias e vigilância sistemática, onde o indivíduo é moldado pelo confinamento e pelo controlo no espaço físico e temporal. Exemplos disso incluem os espaços da família, escola, igreja, fábrica, hospital, sindicato, exército e prisão. Estas instituições possuem limites bem definidos e operam impondo disciplina através de espaços delimitados e um sistema linear e previsível.
Por outro lado, nas sociedades de controlo, o poder deixa de estar confinado a instituições específicas, passando antes a ser disseminado por toda a vida social de maneira contínua e muitas vezes invisível. A lógica de controlo adapta-se às circunstâncias, sendo flexível e modulável, regulando o comportamento sem imposições diretas. A identidade do indivíduo, anteriormente moldada de forma rígida pelas instituições, torna-se fragmentada, dando origem aos “dividuais” - partes divididas do sujeito, susceptíveis a serem condicionadas a perfis digitais, analisadas por sistemas de dados, registos financeiros e créditos. Este controlo opera por meio de redes abertas, tecnologias digitais e sistemas de informação, que permitem um monitoramento permanente e invisível.
Esta nova forma de poder manifesta-se no trabalho, na educação, na economia… no novo capitalismo. E torna-se evidente no modo de funcionamento das empresas, do marketing, e da publicidade - “gasoso” e até “almejados”. Enquanto as fábricas das sociedades disciplinares eram lugares hierarquizados e localizados, as corporações multinacionais das sociedades de controlo operam como redes descentralizadas e globais, flexíveis e impregnantes. Os nossos desejos, ações e vontades passam a ser moldados de maneira quase impercetível.
Criança Geopolítica Observando o Nascimento do Homem Novo, de Salvador Dalí (1943).
Notas iniciais sobre a pintura: “Paraquedas, paranascimento, proteção, cúpula, placenta,
Catolicismo, ovo, distorção terrena, elipse biológica. Geografia muda a sua pele em germinação histórica”.
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