(aula) Caravaggio, Nancy e a Ressurreição (II)

(aula)

Caravaggio, Nancy e a Ressurreição (II)

31 de Janeiro

2023



Caravaggio, A Incredulidade de São Tomé, 1603

Nesta aula, concluímos a introdução ao sentido da «desconstrução do cristianismo», tal como esta foi desenvolvida por Jean-Luc Nancy, e da qual voltámos a destacar a análise do episódio bíblico Noli me tangere. Num segundo momento da aula, e preparando a leitura do quadro caravaggesco A Incredulidade de São Tomé, aproximámo-nos do episódio que se lhe sucede no Evangelho de João, episódio aparentemente contraditório já que, então, Cristo incita Tomé a tocar no seu corpo ressurrecto para que o apóstolo se torne crente (20:27). Na verdade, não há contradição entre os dois episódios, pois, como concluiu Tomás Maia (que dá esta sequência de três aulas em torno da figura de Tomé), quer este apóstolo tenha tocado ou não no corpo divino, pouco importa no fundo: Tomé designa a im-possibilidade de tocar em tal corpo. De duas maneiras, somos confrontados com o intocável (ou seja, com a estrutura geral do sagrado): na narrativa bíblica, através de uma acção suspensa, na pintura, como iremos ver na aula seguinte, através de um gesto que deixa intacto o corpo de Cristo. Com a sua demanda única, Tomé assinala-nos que a verdadeira prova da presença divina no mundo é uma ausência ou um ter-se ausentado.