28 janeiro, 2023

(aula) Pintar o tempo: a experiência do limite

(aula)

Pintar o tempo: a experiência do limite

17 de Janeiro

2023













imagem do atelier (2018), Teresa Projecto




A aula de dia 17 fez eco da prova de Doutoramento da Teresa Projecto — Pintar o tempo: a experiência do limite — e respectiva exposição — verso rosto parto dreno — decorrida no dia 16 de Janeiro na Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa.


As imagens da exposição convidaram-nos a interpelar o conceito de limite no contexto da criação artística , não pensando-o como fronteira ou fôrma pré-determinada, mas como abertura progressiva, ensaiada, improvisada pelo próprio gesto da produção criadora ao longo do seu acontecer.



Deixamos abaixo o resumo da investigação:



«E se a pintura — a pintura tal como é chamada pela tradição artística ocidental — pintasse sempre o tempo?


Não se trata de ver nesta premissa uma inversão, por exemplo, de uma música que musicasse o espaço, nem de procurar uma ilustração das diversas noções de temporalidade — como o são as várias formas de calendários, relógios, num plano métrico, ou ainda as tentativas de fixação visual daquilo que poderíamos reunir numa iconografia visual da temporalidade: quedas, saltos, jactos, jorros, cursos, fluxos… A proposta desta investigação é, aquém dessas manifestações, considerar (diríamos, por um instante) que, em todo o gesto pictural, quer este esteja ciente de si ou não, seria possível rastrear uma certa relação com a categoria do tempo tal como esta foi pensada filosoficamente (especialmente desde Kant).


Deparamo-nos, então, com pelo menos duas exigências. A primeira, a de esclarecer o que entendemos por gesto pictural, e que ligação esse gesto mantém com a noção de pintura operante na tradição artística (aqui, essencialmente ocidental). A segunda, a de delimitar o que compreende a categoria do tempo aqui convocada, se, como dissemos, ela não remete — pelo menos não explícita ou necessariamente (diríamos até imediatamente) para os elementos iconográficos através dos quais comummente tentamos delimitar e identificar o tempo. Será necessário, precisamente, tomar em mãos essa identificação — quer a identificação do tempo com certas figuras (os seus mitemas), quer o sentido amplo da noção (psicanalítica e estética) de identificação.


A pergunta pela dimensão temporal da pintura pode ser encontrada em diferentes momentos da tradição artística, mas retorna ou persiste em diferentes momentos sob a forma de uma comparação entre pintura e música, que frequentemente insiste numa separação entre as artes ditas «do tempo» e aquelas ditas «do espaço». Se devemos prestar atenção a esta persistência ou a esta insistência e ao que ela parece assinalar, o conceito de representação, por sua vez, pode ajudar a esbater esta diferença, ao colocar sob o mesmo plano (fenomenológico, ontológico) qualquer gesto artístico — revelando que a separação entre as artes reitera subterraneamente a necessidade de diferenciar o estético do artístico (sem poder separá-los).


O conceito de sublime, por sua vez, vem tornar explícita a necessidade de delimitar a noção de representação — primeiro, num sentido amplo, que tem em conta vários aspectos da noção de linguagem, e, depois, considerando a linguagem da pintura, ou a pintura como linguagem.»


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