07 abril, 2022

(aula) Porquê e a Guerra (IV)

 (aula)

Porquê a Guerra? (IV)

de Abril

2022





















Anselm Kiefer, Böse Blumen, 2016

Photo © White Cube


Partimos da questão deixada por Paulo Sarmento — Que história vamos contar a nós próprios para suportar a guerra? — e voltámos a visionar o depoimento de John Maersheimer sobre a guerra na Ucrânia. Seguiu-se uma debate intenso e cruzado que teve, de algum modo, como fio condutor um recente texto de Maurizio Lazzarato, intitulado «A Guerra na Ucrânia» (e publicado na revista Punkto). Deixamos aqui os dois excertos que suscitaram mais intervenções e desenvolvimentos: 

«[…] desde que o Departamento de Estado [Americano] anunciou o fim da História (1989), a paz e a prosperidades sob o beneplácito do Tio Sam, o Pentágono e o exército americano produziram uma sequência impressionante de missões humanitárias pela fraternidade entre os povos:

Panamá 1989 / Iraque 1991 / Kuwait 1991 / Somália 1993 / Bósnia 1994 – 1995 / Sudão 1998 / Afeganistão 1999 / Iémen 2002 / Iraque 1991 – 2003 / Iraque 2003 – 2015 / Afeganistão 2001 – 2015/2021 / Paquistão 2007 – 2015 / Somália 2007-2008, 2011 / Iémen 2009 – 2011 / Líbia 2011, 2015 / Síria 2014 – 2015.

Sem rivalizar com tal recorde, depois da Chechénia e da sua guerra de extermínio (com a cumplicidade do Ocidente), usando o terrorismo como inimigo principal da humanidade, coube à Rússia esmagar qualquer traço de Primavera síria e salvar o regime de Assad, através de suas «operações militares especiais» na sua zona de influência (Geórgia, Moldávia, Ucrânia). Mas as guerras entre as potências nunca acontecem sem serem acompanhadas por guerras de classes, guerras raciais e guerras contra as mulheres, que cada Estado trava por sua própria conta.»

«Só podemos estar do lado dos inocentes que morrem na Ucrânia sob os bombardeamentos, presos entre dois cinismos que jogam sujo para determinar o futuro do mercado mundial. Os russos não querem ceder à vontade hegemónica americana que se manifesta pela instalação dos mísseis nucleares na Roménia, Polónia e (por vir) na Ucrânia, enquanto a estratégia americana do caos é totalmente “racional”: isolar a Rússia (para em seguida isolar a China) e assim romper a aliança em gestação entre as duas potências ex-comunistas, reagrupar os europeus por trás dos EUA que, através da NATO, continuam a ditar a sua «política externa económica», recuperando-se assim de uma enésima derrocada no Afeganistão. / Contrariamente ao que se acredita, o confronto entre os EUA e a Rússia, que é o pano de fundo desta guerra, não é entre democracia e autocracia, mas entre oligarquias económicas semelhantes em muita coisa, nomeadamente no facto de serem oligarquias rentistas. "É mais realista considerar a política económica e estrangeira dos EUA em termos de complexo militar-industrial, complexo petroquímico (e de minério), complexo bancário e imobiliário, do que em termos de política de republicanos e democratas. Os principais senadores e deputados do Congresso não representam tanto seus Estados e distritos mas os interesses económicos e financeiros dos seus principais contribuintes no financiamento das suas campanhas políticas" (Michael Hudson). Desses três monopólios rentistas, o militar-industrial e o petroquímico contribuíram amplamente na estratégia que levou à guerra. O primeiro é o principal fornecedor da NATO, o segundo quer substituir a Rússia como fornecedor principal do gás na Europa e, eventualmente, apropriar-se da Gazprom.»

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