31 março, 2022

(aula) Porquê a Guerra? (III)

 (aula)

Porquê a Guerra? (III)

28 de Março

2022

Francisco de Goya y Lucientes, Luta de Bastão até à morte, c. 1820-23
Copyright ©Museo Nacional del Prado


Nesta aula, prosseguimos a interrogação proposta por Paulo Sarmento a partir do livro Verdade e Política, de Hannah Arendt, com particular incidência em duas passagens: 

«A posição no exterior do domínio político — no exterior da comunidade à qual pertencemos e da companhia dos nossos pares — é claramente caracterizada como um dos diferentes modos de estar só. Eminentes entre os modos essenciais do dizer-a-verdade são a solidão do filósofo, o isolamento do sábio e do artista, a imparcialidade do historiador e do juiz, e a independência do descobridor de facto, da testemunha e do repórter. Estes modos de se ser-se só diferem sob muitos aspectos, mas têm em comum que durante tanto tempo quanto um deles dure, nenhum compromisso político, nenhuma adesão a uma causa é possível. […] É absolutamente natural que tomemos consciência da natureza não política e, virtualmente, anti-política da verdade […]» (p. 54)

«Aquele que diz o que é […] conta sempre uma história, e nessa história os factos particulares perdem a sua contingência e adquirem um significado humanamente compreensível. É perfeitamente verdade que «todas as dores podem ser suportadas se as transformarmos em história ou se contarmos uma história sobre elas», de acordo com as palavras de Karen Blixen […]. Ela teria podido acrescentar que, igualmente, a alegria e a felicidade apenas se tornam suportáveis e significativas para os homens quando eles podem falar delas e contá-las como uma história. Na medida em que aquele que diz a verdade de facto é também um contador de histórias, realiza essa «reconciliação com a realidade» que Hegel […] entende ser o fim último de todo o pensamento filosófico […]» (pp. 56-7)


Paulo Sarmento transpôs estes desenvolvimentos, deixando-nos com esta questão: que história vamos contar a nós próprios para suportar a guerra? A guerra em geral e esta guerra — a da Ucrânia — em particular? 

Na sequência desta pergunta, que começou por suscitar um vivo debate, visionámos ainda um excerto de uma intervenção recente de John Maersheimer (professor na Universidade de Chicago) sobre a guerra. A dado momento da sua argumentação, e como que em eco à pergunta de Paulo Sarmento, Maersheimer afirma o seguinte acerca dos EUA (e da NATO): “Mas claro que tivemos de inventar a história [do expansionismo russo] depois da crise surgir [em 2014] para que nós não fôssemos culpados pelo que aconteceu. Nós tínhamos de culpar os russos.” Seguir-se-á, necessariamente, um debate na próxima aula. 

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