24 março, 2022

(aula) Porquê a Guerra (II)

 (aula)

Porquê a Guerra? (II)

21 de Março

2022

Goya, «Escapam entre as chamas», gravura nº 41
da série Desastres da Guerra, 1810

Nesta aula, conduzida por Paulo Sarmento, detivemo-nos principalmente em três excertos do livro Verdade e Política, de Hannah Arendt:

«São efectivamente muito ténues as possibilidades que a verdade de facto tem de sobreviver ao assalto do poder […]. Os factos e os acontecimentos são coisas infinitamente mais frágeis que os axiomas, as descobertas e as teorias — mesmo as mais loucamente especulativas — produzidas pelo espírito humano; ocorrem no campo perpetuamente modificável dos assuntos humanos, no seu fluxo em que nada é mais permanente que a permanência, relativa, como se sabe, da estrutura do espírito humano».

«Considerada de um ponto de vista político, a verdade tem um carácter despótico. Ela é por isso odiada pelos tiranos […]».

«[…] A verdade de facto não é mais evidente que a opinião, e essa é talvez uma das razões pelas quais os detentores da opinião consideram relativamente fácil rejeitar a verdade de facto como se fosse outra opinião. A evidência factual, além disso, é estabelecida graças ao testemunho de testemunhas oculares — sujeitas a caução, como se sabe — e graças a arquivos, documentos e monumentos — de cuja falsidade pode sempre suspeitar-se».

Estes três excertos suscitaram um debate em torno, por um lado, da impossibilidade da instituição de uma verdade absoluta (ou metafísica), e, por outro, da necessidade de não ceder a um certo relativismo, ele próprio absoluto, que cauciona a ideologia da «pós-verdade». Importa agora compreender esta «posição» ontologicamente frágil da verdade e a sua relação com o poder dominante no Ocidente, isto é, com aquele que tem servido para exercer a dominação económica, financeira, política e, quando necessário, militar (dentro e fora do seu espaço geográfico). É a esta luz que, na próxima aula, tentaremos aprofundar a relação entre a verdade e a guerra em curso na Ucrânia.

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