17 março, 2022

(aula) Porquê a Guerra ? (I)

 (aula)

Porquê a Guerra? (I)

14 de Março

2022


Goya, «Estragos da Guerra», gravura nº 30
da série Desastres da Guerra, 1810

Começámos o nosso encontro com a leitura de um breve texto do Paulo Sarmento, «Preparar a Paz» (entretanto publicado aqui:_), o qual nos impeliu a questionar se esta guerra, em curso na Ucrânia, é uma guerra de agora ou se estivemos em paz até agora… E ainda: quem pode beneficiar com a guerra e não com a paz?


Num segundo momento, lemos alguns excertos de dois textos de Alexandre Koyré, «A Quinta Coluna» (1945) e «Reflexões sobre a Mentira» (1943). «A Quinta Coluna» foi uma expressão primeiramente usada pelo General Franco («As quatro colunas que se aproximam de Madrid serão apoiadas por uma quinta, que já se encontra dentro»), dando-lhe Koyré depois o sentido preciso de «inimigo interior», expressão da traição, pois a quinta coluna age na sombra para salvaguardar sempre os interesses próprios.


Como sintetizou Juan José Saer, num artigo justamente intitulado «O inimigo interior» (publicado na Folha de São Paulo a 5 de Maio de 2002): «Para Koyré, qual é o setor cujos interesses estão acima dos interesses de Estado e da sociedade, da comunidade cidadã e da nação, e que ao longo da história humana, em qualquer tempo e lugar, manobrou como quinta-coluna para salvaguardar seus próprios interesses (…) chegando até a se aliar com o inimigo? Simplesmente: Os ricos. […] Denominando-se multinacionais, […] os ricos de hoje são representados pelos enormes capitais concentrados nas mãos de uns poucos que se confundem num arquipélago de atividades e de empresas envoltas numa brumosa opacidade. […] Essa concentração, cujo crescimento imperativo é uma verdadeira máquina de guerra económica e social, […] determina nos mais variados pontos do planeta, sua existência cotidiana, seu bem-estar ou seu sofrimento, seu nascimento e sua morte».

Prosseguimos com a leitura do segundo texto de Koyré, «Reflexões sobre a Mentira», publicado em 1943 na Revista Renaissance, pela École Libre des Hautes Études (volume I, fascículo I, Janeiro-Março de 1943), tradução de Marta Rios Alves Nunes da Costa. Desse texto, destacamos o seguinte excerto: «Mas se a guerra, de carácter excepcional, episódico, passageiro, se tornasse um estado perpétuo e normal? É claro que a mentira, no caso excepcional, tornar-se-ia também ela normal, e que um grupo social que se vê e se sente rodeado de inimigos não hesitará em empregar a mentira contra eles. Verdade para os seus, mentira para os outros, tornar-se-á uma regra de conduta e entrará nos costumes do grupo em questão».

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