17 fevereiro, 2022

(aula) Guarda Rios II

 (aula)

Guarda Rios II

14 de Fevereiro

2022

 GUARDA RIOS


Após uma breve introdução do coletivo, foram apresentadas imagens de diferentes rios, no sentido de identificarmos algumas das suas características-padrão. Foi então proposto olharmos para as pontes, azenhas e outras arquiteturas em volta dos rios Guadiana e Alvôco, identificando o tipo de comportamento de cada um destes rios. O primeiro sendo um “wadi”, ou seja um rio quase seco na maior parte do ano, mas que se torna repentinamente volumoso e violento com as chuvas (podendo mesmo atingir trinta metros ou mais de altura, como aconteceu nas cheias de 1876), não é então de estranhar o distanciamento das habitações ao rio, as suas pontes altas e as azenhas de submersão. Em contraste, olhámos para uma ponte de pedra rasa do rio Alvôco (Serra da Estrela) e o mosaico de hortas e os muros antigos que acompanham as suas margens, elementos indicativos de um rio com um caudal mais previsível, menos tempestuoso.

Falou-se também nalgumas características de um rio livre, por exemplo, os depósitos de seixos que se vão criando ao longo do seu trajeto, indicativos dos movimentos dos sedimentos que viajam até ao mar, tão importantes para a formação das nossas praias e a resiliência costeira. Falou-se também da forma em serpentina de um rio que corre livre e das diferentes velocidades de caudal, factor importante para formação das suas margens e da galeria ripícola constituída tipicamente por freixos, salgueiros, amieiros, entre outras espécies.

Ao olharmos para as características do antigo rio Guadiana, identificámos, nas imagens que nos foram mostradas, a artificialidade das cachoeiras e praias fluviais em pleno verão, cujo caudal, aparentemente eterno, é gerido pelas comportas da Barragem do Alqueva. Esclareceu-se que o chamado “caudal ecológico” é uma forma de mitigação da EDP e da EDIA pelo impacto desta barragem (a maior da Europa Ocidental) sobre os ecossistemas do Vale do Guadiana. Neste seguimento, foram-nos também mostradas imagens de um rio Tejo com uma estranha coloração verde (plantas aquáticas e cianobactérias), consequência do excesso de fertilizantes usados na agricultura e indicadora de águas demasiado estagnadas, retidas pelas Barragens de Belver, Fratel e Cedillo. Um fenómeno que tem acontecido com cada vez maior regularidade e que tem contribuído para a eutrofização da água.

Discutimos então sobre os reais impactos sociais e económicos das barragens de grande escala, tendo sido identificadas as seguintes falácias.


As hidroeléctricas, consideradas ainda por alguns como “energia verde” ou “renovável”, tem enormes impactos tanto nos ecossistemas como na atividade humana. Relativamente ao impacto nos ecossistemas, para além de promoverem a proliferação de espécies exóticas e da libertação de metano e de outros gases de efeito-estufa, as barragens têm promovido a produção intensiva de amendoal e olival, que dependem de uma grande quantidade de água e de fertilizantes, contribuindo para o empobrecimento e aridez dos solos. Relativamente aos impactos na actividade humana, o que a realidade nos diz é que uma barragem gera muito pouco emprego, sobretudo para os locais, atraindo sim empresas de fora. Temos então, como consequência, a crescente desertificação do interior e o abandono de práticas agrícolas locais, sazonais e de sequeiro, perante os fortes subsídios da União Europeia e o investimento do Estado português na produção de monoculturas intensivas.

Perante estas constatações, surgiram então diferentes perguntas relativamente ao bem comum e ao nosso futuro: “Para quê tanto Azeite Gallo, quando ainda por cima sabemos que faz parte de uma multinacional britânica (Unilever), que só quer é exportar?”; “Serão as barragens, ou seja, o sistema de retenção de água e de rega a grande escala, a forma de nos tornarmos mais resilientes face ao aquecimento global, ou será que nos estão a tornar ainda mais vulneráveis e dependentes?”

O coletivo Guarda Rios mostrou-nos alguns dos seus trabalhos, com maior discussão em volta do seu vídeo Diorama - Lagoa de Óbidos. Por último, partilharam o vídeo Segredos da Natureza | #4 | Plantas Ruderais, de Teresa Castro.

 



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