08 dezembro, 2021

(aula) Arte e capitalismo (IV)

(aula)

Arte e capitalismo (IV)

5 de Dezembro

2021 


Museu do Louvre, Paris (“sala da Mona Lisa”), 11 de Abril de 2017.


Em jeito de conclusão do breve percurso pela religião capitalista — a religião verdadeiramente global —, propusemos que há uma contradição de princípio entre capitalismo e arte. Porquê?

Porque o princípio de funcionamento do Capital obedece à divinização do dinheiro e esta, por sua vez, traduz-se — economicamente — na lei da mais-valia. Ora, um tal princípio é originariamente contrário ao princípio de realização de uma obra de arte: se o capitalismo se funda na apropriação infinita, a possibilidade da obra radica-se num dom inapropriável. A lei da mais-valia visa um ganho e uma acumulação; o dom — o «dom de natureza», como diz Diderot — não se acumula e está sempre em excesso para com o humano.

Daí que, na colisão entre arte e capitalismo financeiro, resulte um facto inédito na história mundial: já não se trata simplesmente de obter prestígio ou de especular, muito ou pouco, com obras de arte; trata-se de o próprio sistema financeiro produzir «figuras» e «coisas» — face às quais os nomes «artistas» e «obras» já não se adequam.

Três exemplos foram evocados a propósito desta colisão (exemplos que retomaremos na próxima aula, destacando-se destes a operação Louvre-Vuitton-Koons onde, aparentemente, o objecto de compra já é um lugar na história da arte).

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