13 novembro, 2023

(aula) "O Livro das Ignorãças", Manoel de Barros (continuação)

 (aula)

"O Livro das Ignorãças", Manoel de Barros 

7 de Novembro

2023

Se a primeira e a segunda parte do livro levam-nos numa viagem pelo infinitamente grande, a terceira parte - Mundo Pequeno - é uma visita ao infimamente pequeno. Olhamos agora o mundo com uma lupa de ampliação. O olhar é duradouro, e os bichos tornam-se enormes. Surgem partes inteiramente dedicadas à lesma, às capivaras, explicando em grande detalhe “tudo o que se há de dizer aqui sobre capivaras”. É um olhar quase científico, pontuado por estranhos factos onde “nem as mentiras podem ser comprovadas”. O facto científico recua até à origem do mundo, com cosmogonias postas do avesso. Primeiro não era a palavra, mas sim água e luz, depois árvore, depois lagartixa, depois homem. Só depois o pensamento e o sonho, encontros com as almas. Esta é a cosmologia do índio Rogaciano, mas Manoel de Barros resume em 14 versos a Teoria da Sopa Primordial - a única cosmogonia aceite pela Biologia do mundo ocidental.

“Pode um homem enriquecer a Natureza?”. O borbulhar constante da natureza, que está sempre a fazer nascer, manifesta-se na imaginação humana. Diz a Matemática que nunca vamos saber se algo é verdadeiro ou não, mas podemos propor. Essa proposta, palavra ou obra, é sempre um enriquecimento. E como uma reta sem origem nem fim, uma história escolhe dois pontos para começar e acabar. Mesmo sendo estes a origem mais distante e o fim certo, resta-nos imaginar o que há para além destes lugares, completando assim a história com a nossa imaginação. Fechamos o ciclo que se perpetuará para sempre na natureza.
























Pôs uma pedra na cabeça e foi embora, ilustração de Manoel de Barros.

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