06 novembro, 2023

(aula) “O Livro das Ignorãças’’, Manoel de Barros

 (aula)

"O Livro das Ignorãças", Manoel de Barros 

31 de Outubro

2023

No seguimento da aula anterior em torno da obra ‘’O Livro das Ignorãças’’, de Manoel de Barros, foi feita uma leitura conjunta da 2a parte. Este momento do livro é caracterizado por um teste aos ‘’deslimites’’ da palavra e da realidade.

Descrevendo a paisagem do Pantanal, local onde vivia e cuidava da sua fazenda, Manoel de Barros coloca-se ao nível da copa das árvores durante 3 dias, numa canoa, por consequência do que parece ter sido um dilúvio. Esta experiência perceptiva, parecendo um delírio, vai caracterizar toda a leitura desta parte da obra.

As imagens que descreve falam-nos da sua experiência com as coisas primeiras, as pré-coisas. Tudo isso denuncia a vivacidade no Pantanal, um lugar onde predominava o campo, os bichos e os fenómenos naturais. Denuncia também o tempo e a entrega que o autor dedicou para fruir naquele lugar. No Pantanal a própria ideia de tempo é rasgada ao longo do texto, porque se torna imenso em cada verso proferido. A narrativa destrói-se, porque cada frase é só uma frase, não se unem, mas a voz é contínua. A sua atenção para as coisas íntimas amplia o seu desejo de ser tudo com o Tudo da Natureza. É uma forma de se posicionar no mundo que habita, testemunhando a vida das coisas com o seu corpo inteiro, como se os olhos estivessem nas mãos e os ouvidos tivessem cócegas.

Praticar a atenção parece ser um constante elogio à terra e à presença.


"Eu sou devedor à terra

A terra me está devendo

A terra paga-me em vida

Eu pago à terra em morrendo"

Alentejo, Alentejo (Eu sou devedor à terra)



A.J. Casson, Shore Pattern, 1950 / 1960
in https://artsandculture.google.com/asset/shore-pattern/FQEf0jPSo6D-Yg?hl=f

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