(aula)
Formar o vazio
27 de Fevereiro
2023
Ana Sofia Sá, Sem título, 2019-2022. Gesso extra-duro, fio de aço, ferragens, contraplacado. 300 x 120 x 110 cm (altura variável)
Aula de Ana Sofia Sá
Aula de Ana Sofia Sá
Tomando o sentido original de physis, habitualmente traduzida pela expressão insatisfatória de natureza, a partir de Heraclito e Heidegger desenvolvi na primeira parte desta investigação a ideia de uma força que se manifesta em dois movimentos contrários, e que se estende, na segunda parte, à noção de um ritmo anadiómeno do visual em Didi-Huberman.
Identificando a duplicidade da physis, estabeleci uma relação entre as figuras no túmulo de Catarina de Médicis e de Henrique de Valois, e os negativos do corpo (série que tenho vindo a desenvolver no meu trabalho artístico). Tanto no túmulo como nos negativos, as curvas contrárias parecem reforçar esta ideia de simultaneidade dos movimentos contrários; isto é, no caso do túmulo o vivo está ao mesmo nível do morto, enquanto estados justapostos de uma mesma força; no caso dos negativos, estes revelam, se seguirmos uma ordem de síntese, apenas duas formas – que são contrárias entre si (e simultâneas). A hipótese que me guia é portanto a seguinte: o que relaciona as figuras do túmulo e os negativos é o simples movimento de respiração – a pulsão de vida e a pulsão de morte.
No que diz respeito a estes trabalhos que tenho desenvolvido a partir do espaço negativo do corpo, pude identificar de modo geral uma vontade de me ater ao vazio: de lhe querer ver a forma. A forma nascente do vazio.
Sem comentários:
Enviar um comentário