(aula)
Obliquidade do cinema - ou a percepção cinematográfica
29 de Novembro
2022
Retomámos a aula cancelada (do passado dia 15): dando seguimento a algumas hipóteses lançadas na aula anterior, onde se procurou defender uma possibilidade de cinema que é indistrinçável da sua historicidade e, logo, dos modos de percepção cinematográfica. Numa conversa aberta conduzida pelo visionamento de Film (1965), de Samuel Beckett, proposto por Pedro Florêncio, continuámos a pensar o cinema, as suas «condições de possibilidade», e o modo como essas condições nos remetem necessariamente para um questionamento da própria visualidade, e do abismo no qual radicará o gesto artístico.
A figura que protagoniza Film está em fuga, tem medo. Vemos a sua fuga através de dois ângulos diferentes, no fundo, dois olhos, que propusemos (na senda do ensaio O Olho Divino [2016], de Tomás Maia) tratarem-se um, do olho humano, o outro, do olho ontológico internamente inalienável, incorporado aqui pelo olho da câmara. Levando às últimas consequências a premissa de George Berkeley, «esse est percipi», Beckett coloca esta figura (interpretada por Buster Keaton) no intervalo entre o acto de ver e ser visto. O personagem procura obsessivamente, ao longo do filme, não ser visto. Seguindo a lógica de Berkeley, ao não ser visto, o personagem deixaria de existir, de ser. Este silogismo conduziu-nos à pergunta limiar da sessão: será possível aceder, em vida, ao não-ser? Porque é que o personagem, confrontado com o seu outro íntimo, se assombra? Porque é que tapa os olhos, e recusa ver-se? Será um gesto de fuga? De negação? De defesa? De distanciamento?
A conversa prolongou-se no limiar deste gesto que tapa e destapa os olhos, do olho abrindo-se e fechando-se, e do pensamento do cinema que dá a ver.
Deixamos o acesso ao filme, para quem não pôde comparecer:
E, ainda sobre o filme de Wang Bing, deixamos um link para se aceder ao texto de Pedro Florêncio:
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