21 outubro, 2022

(aula) Manhã Submersa I

 (aula)

Manhã Submersa I

18 de Outubro

2022

Stan Brakhage, The wonder Ring (1955)


Pedro Florêncio expôs os princípios que o guiaram na escolha e no alinhamento dos filmes de Stanley Brakhage: limiar da percepção, endurance, intervalo (entre planos) e jogo. Abriu-se um amplo e intenso diálogo, com múltiplas intervenções sobre o sentido da arte (do cinema) e da possibilidade de representação da morte (própria). Talvez os famosos versos de Rilke, na primeira das Elegias do Duíno, possam condensar o âmago desse diálogo — agora apenas começado:


“Quem, se eu gritasse, me ouviria dentre as ordens 

dos anjos? E mesmo que um me apertasse

de repente contra o coração: eu morreria da sua

existência mais forte. Pois o belo não é senão

o começo do terrível, que nós mal podemos ainda suportar,

e admiramo-lo tanto porque, impassível, desdenha

destruir-nos. Todo o anjo é terrível.  

E assim eu reprimo e engulo o chamamento

dum soluçar escuro. Ai! de quem poderíamos

não então valer-nos? Nem de anjos, nem de homens, 

e os bichos perspicazes reparam já

que nós não estamos muito confiados em casa

neste mundo explicado. Resta-nos talvez 

qualquer árvore na encosta, que de novo a vejamos 

diariamente; resta-nos a estrada de ontem

e a fidelidade amimada de um costume,

que gostou de estar connosco, e por isso ficou e se não foi.”


(Tradução de Paulo Quintela) 


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