(aula)
Manhã Submersa I
18 de Outubro
2022
“Quem, se eu gritasse, me ouviria dentre as ordens
dos anjos? E mesmo que um me apertasse
de repente contra o coração: eu morreria da sua
existência mais forte. Pois o belo não é senão
o começo do terrível, que nós mal podemos ainda suportar,
e admiramo-lo tanto porque, impassível, desdenha
destruir-nos. Todo o anjo é terrível.
E assim eu reprimo e engulo o chamamento
dum soluçar escuro. Ai! de quem poderíamos
não então valer-nos? Nem de anjos, nem de homens,
e os bichos perspicazes reparam já
que nós não estamos muito confiados em casa
neste mundo explicado. Resta-nos talvez
qualquer árvore na encosta, que de novo a vejamos
diariamente; resta-nos a estrada de ontem
e a fidelidade amimada de um costume,
que gostou de estar connosco, e por isso ficou e se não foi.”
(Tradução de Paulo Quintela)
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