(aula)
Arte e capitalismo (II)
22 de Novembro
2021
Dani Karavan, Passagens — Homenagem a Walter Benjamin, 1990-1994,
Portbou, Espanha
Em quatro passos, tentámos resumir o percurso feito por Nietzsche (no «Segundo Ensaio» de Para a Genealogia da Moral), extraindo deste o que poderia iluminar um fragmento póstumo de Walter Benjamin, «O capitalismo enquanto religião»:
1. É a dívida material (económica) que determina a culpa (moral), e não o inverso;
2. Qualquer prejuízo «tem algures um equivalente» (§ 4), e esta ideia de equivalência — a possibilidade de uma recompensa, sobretudo através do castigo — baseia-se por sua vez na relação humana mais arcaica: a relação entre credor e devedor;
3. A dívida-culpa (Schuld) torna-se verdadeiramente religiosa quando o credor passa a ser encarado historicamente: como um antepassado, o fundador de uma linhagem;
4. O antepassado transfigura-se em deus uma vez associado o sentimento de medo à dívida-culpa histórica: «por acção da fantasia resultante do medo, os antepassados acabarão por tomar proporções gigantescas e ser remetidos para a obscuridade de uma dimensão divina, inquietante e inconcebível…» (§ 19).
A partir daqui, propusemos dois enunciados que nos servirão, na próxima aula, para aclarar a relação (ou a não-relação, como veremos) entre arte e capitalismo:
a) Deus é o credor existencial: devemos-lhe tudo, desde sempre e para sempre;
b) A crença é, originariamente, um crédito: acreditar (credere) em Deus é creditar (credere) nesse ente a nossa existência. Está aberto o programa do crédito infinito — ou da dívida eterna.
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