(aula)
Da representação do irrepresentável
25 de Outubro
2021
A Captura de Cristo, Caravaggio (1602)
Nesta aula — com o convidado Paulo Pires do Vale — abordaram-se as várias interpretações sobre o interdito bíblico da representação (de Deus). Tal abordagem permitiu-nos compreender, na maior proximidade das teses de Marie-José Mondzain, a diferença entre ídolo e ícone e, por conseguinte, que o tal “interdito” não consiste na proibição generalizada ou indeterminada das imagens de Deus, mas na idolatria — no culto dos ídolos. Ou seja, na adoração de objectos tomados como presenças plenas do divino e não como representações de uma ausência. Esta revisitação dos debates teológicos de Bizâncio tiveram, no fundo, como escopo a compreensão aguda de que a existência da história da arte, tal como a conhecemos, só foi possível porque no século IX as teses de Nicéforo I, entre outros, vingaram. Com efeito, se a arte é um espaço (do) imaginário é porque, então, ganhou o "partido" (político-religioso) das imagens.
No final, foram brevemente comentadas três pinturas: — Francisco de Zurbarán, Cristo Crucificado, com um Pintor (c. 1650); — Benedetto Bonfligli, A Anunciação (séc. XV); — Caravaggio, A Captura de Cristo (1602). Todas estas obras contêm um mesmo traço determinante: a presença do pintor na pintura ou, pelo menos, de indícios de meta-pintura. Estamos pois perante três casos exemplares da compreensão pela própria pintura, por meios pictóricos, da sua natureza “imaginária” (e não idolátrica).
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