(aula)
Música e poder II - arte ética e política
(segundo momento, primeira aula)
1 de Março
2021
Como ligação entre o primeiro e o segundo momento da audição (entre a peça de Ives e a de Shostakovich), achou-se por bem fazer uma distinção entre a música de câmara (de natureza mais intimista, comummente tocada por poucos instrumentos) e a música sinfónica (de cariz grandioso, interpretada por um grande número de instrumentistas). A primeira foi metaforicamente associada às relações de proximidade, à resistência e à conspiração; de modo equivalente, a segunda foi associada aos movimentos de massas, às relações de força (hierárquicas) e aos confrontos históricos. Como ilustração desta distinção foram invocados alguns exemplos da História da Música e ouvidos o início do Adagio do Quinteto para cordas, op. 163 de Schubert e o final da sinfonia Fantástica de Berlioz.
Seguimos com a audição do episódio da invasão da Sétima Sinfonia (também chamada Leningrado) de Shostakovich. Relativamente a este, foram realçados múltiplos aspectos — dentre eles: a ambiguidade de um tema musical que tanto simboliza a invasão das forças nazis como a resistência às mesmas; a forma insinuante como, pela repetição e pela “agradabilidade”, se foram instalando no século XX as “convicções induzidas, gradualmente convertidas em certezas incontestáveis” que conduziram às catástrofes históricas do século XX (a propósito deste aspecto, ressalvou-se que os mecanismos de manipulação de massas hoje são outros); a forma como Shostakovich traduziu em música as consequências da adesão cega a tais “padrões de pensamento”, e como tal adesão se deve em parte a uma “miséria estética” ou, talvez mais precisamente, a um embotamento estético.
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